Entre Quadros: Um Ano a Menos e Outras Histórias

Mário César é um nome bastante conhecido nos quadrinhos nacionais. Além de quadrinista, atua como editor e é um dos criadores da Poc Con, evento que ainda quero muito visitar um dia. Eu já conhecia seu trabalho pela antologia Sob a Luz do Arco-Íris, organizada por ele, mas ainda não havia lido uma obra inteiramente sua.

Ao ler Entre Quadros: Um Ano a Menos e Outras Histórias, senti que seu trabalho explora as relações humanas e o cotidiano, com pequenas doses de fantasia e ironia, sempre apoiado por uma narrativa visual interessante e ótimos diálogos. A coletânea, publicada pela Tábula Editora, reúne seis histórias dos primeiros anos do autor, já evidenciando sua versatilidade como artista.

Gostei muito do texto de todas as histórias, e o traço varia conforme a necessidade e a época em que cada HQ foi criada. Os diálogos, por sua vez, são certamente um dos pontos altos da obra: fluidos e envolventes, fazem com que a leitura flua com naturalidade, mesmo em tramas mais reflexivas. As histórias transitam entre gêneros como drama, fantasia e cotidiano, sempre com um tom intimista e uma pitada de acidez.

Das seis histórias, separei as três de que mais gostei:

Um Ano a Menos é a primeira história do volume, onde acompanhamos Auto César de Oliveira Filho, personagem que inicia a trama afirmando saber a data em que vai partir desta vida. Esse detalhe impactante sustenta toda a narrativa: afinal, como viver sabendo exatamente quando vai morrer? O fato de Auto César ser o pai do autor faz com que à leitura ganha uma carga emocional ainda maior. A trama se torna cada vez mais envolvente e, quando parece chegar ao auge, encerra de um jeito que deixa aquele gostinho de quero mais.

Maria Tereza retrata o possível reencontro de duas pessoas que se conheceram no

colegial e ainda nutrem sentimentos uma pela outra. Edit: É uma história de amor! rsrs

Pappy the Duke, escrita por Marcelo Saravá e ilustrada por Mário César, acompanha um músico em um saloon, apavorado ao saber que em breve terá de acertar as contas com um cara “barra pesada”. A pegada Western funciona muito bem, e o traço do Mário se encaixa perfeitamente nesse clima de faroeste com um final meio agridoce.

As demais histórias também são muito boas:

• A Mais Bonita mostra a Morte tirando férias e vivendo um romance em uma trama com uma pegada meio sarcástica;

• A Dança das Pedras é a que menos me atrai visualmente, mas compensa com uma boa história sobre juventude, brigas de rua e bandas de rock;

• e Terra quase arrancou o lugar de Maria Tereza no meu top 3. Aqui temos um relato sensível sobre a imigração japonesa no Brasil, que acompanha a jovem Mitiko em uma linda jornada.

Entre Quadros é um quadrinho prazeroso de ler. Todas as histórias são, no mínimo, interessantes, e algumas são realmente acima da média. Saí da leitura com vontade de conhecer Bendita Cura e as demais obras do autor. O posfácio de Mário conta um pouco sobre sua trajetória no mundo dos quadrinhos e o quanto precisou se esforçar para chegar onde está hoje. Recomendo muito a leitura!