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Foto do escritorOitavo Lucas

Blue Period: Insistir, persistir, resistir ou desistir?



"Blue Period" se inicia quando o jovem Yatora Yaguchi se vê preso no dilema do futuro. Porque escola é fácil, apesar de às vezes não parecer na época. Na escola você segue um fluxo pronto, contínuo, que te dão inteiro do começo e você só caminha passo a passo. Mas depois dela você precisa fazer escolhas. E escolhas são muito difíceis de fazer, manter e avaliar.


Yatora não sabe o que quer. É comum, certo? São tantas opções e todas parecem uma escolha definitiva para sua vida inteira. Você não conhece o seu eu de amanhã, apenas estima as possibilidades de futuro e tem até medo do que consegue ou não fazer. Até que surge um encanto.


Um menino que não via valor e sentido em nada, apenas fazia o que parecia ser conveniente e lhe desse algum prazer ou vantagem, se descobre enlouquecido por um mundo perigoso: As artes. Especialmente a pintura a óleo. Como dedicar sua vida a algo que você acabou de descobrir que ama? Como competir com pessoas que estão nisso a tanto tempo e parecem saber tanto mais que você? Porque vestibular é uma grande tensão, talvez a primeira de muitas na vida de alguém que sempre teve tudo aparentemente fácil. Mas os dilemas de Yatora não são os únicos interessantes na trama. Apresento para vocês outros personagens desse arco que dura os seis primeiros volumes:



Utashima parece ter a postura mais leve e despreocupada dentre os personagens do mangá. A verdade é que ele não tem muitas expectativas. Não se coloca pressão porque qualquer coisa está bom. O futuro dele parece o presente. É apenas outro passo no fluxo. Faz o que pode e se contenta com o que faz. Não é um desprezo pelos dramas e realidades dos colegas, ele admira muito a determinação deles. Ele só não pensa assim, não é assim. Parece saudável. Ele não se encontrou e não se cobra sobre isso.


Yuka é uma crossdresser com os dilemas mais pesados da série. De transfobia a uma aparente tendência suicida, passando por uma família problemática e um sonho que não necessariamente é dela, Yuka é uma sobrevivente, uma lutadora, e uma força imensa no mangá. A presença dela é intimidadora e também admirável, charmosa mas quebrada por dentro. E só quem realmente para pra ouví-la, a entende por completo. Numa atividade de autorretrato no vestibular específico de artes, ela faz um X e sai da sala. E sua vida se entrega ao caos.



Yotasuke tem orgulho do que faz mesmo não tendo muito ego. Ele se isola e valoriza seu próprio jeito de buscar as coisas. Nem sempre isso fica claro para os outros personagens, mas ele é quem mais se guia pelo coração. Quando não compreende as motivações dos outros, as questiona onde elas o ferem. Porque é tudo tão árduo e doloroso pra ele, a pintura é tudo que ele tem, e mesmo sabendo da paixão que tem pelo que faz e reconhecendo seu trabalho, sente não se encaixar no meio disso tudo, das exigências complexas e das regras sem sentido.


Kuwana vive à sombra da irmã e da família de artistas. Ela tem sua identidade, seu talento próprio, mas é difícil enxergar isso. Ela não passa no vestibular. E isso poderia a arrasar por dentro ou a libertar. Fazê-la olhar para o outro lado, para outras possibilidades, ou se prender ao objetivo tão almejado que ela nem sabia mais se era dela ou se foi dado a ela. Kuwana é forte, gosta de cuidar das pessoas e se preocupa com elas. E as pessoas se preocupam com ela também, cada uma a seu jeito.



Mori é extremamente dedicada e uma inspiração para Yatora e todos próximos a ela. Nunca se sente grande ou boa o bastante quanto é, mesmo que todos possam claramente ver o poder do seu trabalho. Para ela, ela só se dedica, ela só trabalha mais e mais. Talento é conversa, habilidade é desenvolvimento, ela quer alcançar mais ao invés de se acomodar. Fofa, intensa, amável, amigável e admirável. Aparentemente sem defeitos, mas extremamente focada em seus sonhos.


Porque escolhi estes personagens, com tantos outros incríveis como o tarado por arte Hashida e o inspirado por seu amigo Yatora, Koi? Porque eles demonstram diferentes atitudes sobre as escolhas que precisam tomar, sobre o trabalho que precisam fazer e a intensidade com que se entregam a isso. Insistir, persistir, resistir ou desistir: O que isso diz sobre nós, sobre quem somos? Às vezes colocamos tanta pressão sobre escolhas, como se elas nos definissem. Às vezes até queremos que elas nos definam, mas não nos sentimos capazes. Errar e acertar são apenas outras vias no meio de um mapa de caminhos longo demais pra gente saber se existe realmente algum fim. "Blue Period" não é um mangá sobre otimismo ou pessimismo, sobre vencer seus medos e romper barreiras, seguir crescendo mesmo na dificuldade ou se perder pra sempre... Não. Ele é sobre todas as pessoas que ficam pelo caminho também. Sobre todos os caminhos que podem e vão traçar. Sobre todas as outras descobertas na jornada para se descobrir. Sobre como nenhuma resposta é definitiva, mas as perguntas nunca vão parar de chegar. O grande monstro na sua frente é apenas o muro que te protege do próximo monstro. Te sufoca mas te liberta. Tem outros monstros pra encarar. E se você cansar de derrubar monstros, descansa. Não é tão necessário assim.


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