A série que já foi um fenômeno por seus debates sobre o uso da tecnologia é descabelada para mais cinco episódios. Mas o que sobrou de Black Mirror?
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Vamos aos episódios:
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O primeiro episódio, Joan is Awful, nos leva para uma meta série infinita, na qual o dia de Joan se transforma numa série de sucesso de uma plataforma de streaming sem ter nenhum controle sobre isso.
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Com tom de comédia, o roteiro brinca com nossa incapacidade de ler contratos virtuais, e leva às últimas consequências a falta de controle que temos sobre a nossa própria vida. A história também levanta a questão das reproduções digitais que substituem os atores e o direito que temos sobre nossa própria identidade.
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Por si só já é interessante essa crítica na própria casa do seriado, mas ganha ainda mais camadas de lembrarmos que existe uma greve de roteiristas no momento de lançamento, e que uma das pautas é o uso de IA para escrever os roteiros.
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8,5/10
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Loach Henry apresenta um casal de jovens documentaristas que resolve fazer uma série sobre os crimes ocorridos no vilarejo da infância de um deles, mas a investigação acaba revelando segredos obscuros.
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Mais uma vez o humor toma a maior parte da narrativa e explora a temática dos crimes reais que estão em alta nos últimos anos. Aqui a produção se vale da ambientação do vilarejo isolado para criar um cenário de horror antigo e escondido que encontra sua pior manifestação dentro dos mais inocentes moradores.
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Mais um episódio que faz um aceno para um dos maiores sucessos recentes da cultura pop: o "true crime" com a exploração de violências ordinárias.
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8,5/10
Beyond The Sea nos leva para uma década de 1960 alternativa e usa a tecnologia para discutir sobre relacionamentos com dois astronautas que visitam sua família com avatares robóticos.
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As tomadas silenciosas, a inspiração na nave de 2001, a atuação e a tensão criada pelo drama de ambos os personagens são o ponto forte. Mas falha no desenvolvimento da trama que se mostra previsível, além de escolher um recurso narrativo para a motivação dos personagens, que é bastante questionável.
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6/10
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A divisão desta análise em duas ocorreu pelo tamanho, mas também foi muito fortuita no momento do corte, pois para muitos, os últimos dois episódios nem são Black Mirror.
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Maze Day acompanha uma paparazzi em meados da década de 2000 que resolve pegar um último e extremamente lucrativo trabalho: tirar fotos de uma estrela de Hollywood que foi expulsa do set de filmagem e se escondeu de todos.
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É o menor dos episódios, mas existe uma construção e desenvolvimento de trama e personagens muito bom, o maior porém fica por conta do tema. É um horror, que questiona a mídia e a superexposição dos atores, mas o fator tecnologia precisa de muita boa vontade para apontar um ou outro elemento como justificável.
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7,5/10
Demônio 79 conta a história de Nida Huc, uma mulher solitária e introspectiva que sofre com a xenofobia crescente em uma Inglaterra em crise. Um dia, ela sem querer encontra um amuleto que invoca um demônio em treinamento e precisa matar três pessoas em três dias para evitar o apocalipse.
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Não é preciso se esforçar muito para perceber que é uma comédia satírica, ainda que apresente alguns elementos sociais, o foco é mesmo o humor com um demônio espirituoso e uma protagonista reticente de sair assassinando qualquer um.
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A tecnologia que sempre definiu a série não existe, mas chama a atenção pela estética que assume a década de 1970 por completo, da abertura e trilha sonora pop de cortes secos à saturação e granulação de cada uma das tomadas.
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7/10
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Ao fim da jornada, podemos concluir que tivemos grandes episódios e boas histórias, mas que seus criadores já cansaram de falar sobre o mesmo tema por tantos anos e resolveram colocar outras temáticas de baixo do mesmo guarda-chuva. Na média acredito que valeu a pena, mas grande parte dela poderia estar em outra série.
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Disponível #netflix
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Temporada: 7/10
Série: 8/10
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