Muito bom pra quem curte filme ruim.
A Avó é um filme espanhol, lançado em 2021, e dirigido por Paco Plaza, que também é criador do clássico de zumbis, REC, que teve sequencias péssimas e de Verônica, que foi um pequeno fenômeno e conquistou boa audiência. Mesmo sendo um diretor/roteirista bastante irregular em sua filmografia, é um nome que gera certa expectativa.
O filme em questão é protagonizado por Almudena Amor (Susana) e Vera Valdez (Pilar). A sinopse é a seguinte:
“Susana é uma modelo que deixa sua carreira em Paris e volta para casa, em Madrid, após descobrir que sua avó Pilar, que a criou depois que seus pais morreram, acaba de sofrer um AVC. Ao retornar a sua cidade natal, Susana tenta encontrar uma cuidadora para Pilar, mas passar apenas alguns dias com sua avó se transforma em um pesadelo inesperado, quando Pilar começar a agir de forma estranha e acontecimentos assustadores se apresentam.”
A premissa não empolga, mas os minutos iniciais até fazem o espectador se ajeitar no sofá para prestar atenção. Rapidamente percebe-se que o envelhecimento é o tema. Susana é modelo, e no auge de seus vinte e poucos anos já é tida como VELHA para pensar em sucesso, precisando rapidamente fazer seu “pé de meia”. Não é hora de escolher trabalhos, o que aparecer ela topa.
Nesse tempo de decisões difíceis, Susana é surpreendida pela notícia de que sua avó, com 85 anos, acaba de sofrer um AVC. Ela vai precisar cuidar da Pilar de algum jeito.
Parece que as coisas iriam melhorar para o espectador, porém, o filme apresenta um prelúdio que acaba com todo mistério que poderia ter sido construído. Lá no início vemos uma cena um tanto reveladora, que indica que existe um ritual de rejuvenescimento e que Pilar vai trocar de corpo com a neta em algum momento.
O filme avança e esse prelúdio vai se confirmando a cada cena. Sinais são percebidos por Susana, que, como de costume nos filmes ruins de terror, opta por não decidir nada além de aumentar gradativamente seu pavor diante das atitudes de sua avó, que aparentemente já não domina mais sua própria consciência.
O problema é que a Avó domina tudo, e vai trocar de corpo com a jovem em algum momento. Isso nós já sabemos e, por arrastadas 1:40h, assistimos a nossa protagonista Susana fazer tudo que não devia para impedir sua avó de seus feitos e chegamos a uma conclusão tão óbvia quanto decepcionante.
O filme falha miseravelmente em fazer uma crítica ao combate do envelhecimento e o que poderia ser uma dolorosa e brutal guerra da autoaceitação, se transforma numa galhofa. Nem JUMPSCARE, nem situações realmente embaraçosas ou pesadas, nem sequer um pouco de diversão.
O espectador sofre nessa experiência com uma certa “americanização” e se vê como alguém que precisa ser guiado por narrativas óbvias. Isso apequena as possibilidades e tenta fazer da subjetividade algo detalhadamente explicável e, com isso, se perde a magia, se perde a confusão e a surpresa que o terror pode proporcionar.
O problema ainda fica pior quando simultaneamente a todas as obviedades possíveis, algumas coisas que poderiam ser explicadas, simplesmente não são. O ritual era satânico? A idosa era simplesmente maléfica? Qual é a dessa mitologia? Nunca saberemos.
O que ainda poderia ser algo interessante é que praticamente todas as cenas são protagonizadas por mulheres, mas até isso se perde em meio a tão baixa qualidade na construção de personagens, motivações e anseios. Difícil até de analisar as atuações, que não são ruins e passam até certa verdade, mas o roteiro de Carlos Vermut é tão pobre e a direção é tão quadrada, que as talvez boas atrizes acabam penalizadas.
Sabe aquela piada que precisa de explicação, então. Esse é o caso.
Não envelheça assistindo essa bomba, mas se quiser mesmo assim, o filme está disponível no Amazon Prime Video.
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