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Por Que Falar de Quadrinhos Se Tornou Tão Cansativo?

  • Foto do escritor: Carlos Pedroso
    Carlos Pedroso
  • 24 de mar.
  • 3 min de leitura

Vez ou outra, me pego levantando algumas bandeiras, repensando sobre aquilo que sempre me moveu: o prazer de ler e falar sobre quadrinhos. Só que, ultimamente, tenho percebido como esse ato, que antes era natural e empolgante, se tornou algo quase incômodo. Falar de quadrinhos está chato. Não porque a mídia perdeu sua força ou sua capacidade de emocionar, mas porque o ambiente em torno dela se tornou sufocante, repetitivo e, em muitos momentos, vazio.

THOMAS COUTURE - Los Romanos de la Decadencia
THOMAS COUTURE - Los Romanos de la Decadencia

O que antes me fazia vibrar, hoje parece ter virado mais uma obrigação ou, pior, um hobby que nem distrai mais. A vontade de compartilhar descobertas, indicar boas leituras ou simplesmente trocar ideias foi sendo engolida por um cenário saturado de vaidades, egos inflados e discussões irrelevantes.


Hoje, o que vemos é uma "gibisfera" onde muita gente parece mais preocupada em se colocar acima das próprias obras. Editores que querem ser mais famosos que os quadrinhos que publicam, como se o mercado girasse em torno deles. Leitores mais interessados no tipo de papel, na gramatura, no acabamento de luxo, do que no que realmente importa: a história. O quadrinho virou objeto de ostentação, peça de colecionador, e não mais uma experiência de leitura.

Decadência, de Inio Asano
Decadência, de Inio Asano

Além disso, o discurso se esvaziou. Tem uma galera que só quer receber material grátis, fazer um vídeo rápido ou um post vazio para se manter na bolha. Poucos realmente param para pensar ou discutir o que estão lendo. O mercado virou uma grande vitrine de unboxing e resenhas pasteurizadas, onde todo mundo ama tudo desde que ganhe para isso.


E se falar de quadrinhos está chato, comprar então virou um exercício de resistência. Os preços atingiram um nível absurdo, tornando o quadrinho um item de luxo. O mercado nacional parece competir para ver quem cobra mais caro por menos conteúdo. E aí o ciclo se fecha: pouca gente nova chega, quem já está dentro segue consumindo por hábito ou apego, e o público vai encolhendo, cada vez mais restrito aos mesmos rostos de sempre.


Com o desgaste dos filmes de super-heróis, que durante anos alimentaram uma sensação de crescimento da cultura nerd, o grande público parece ter perdido o interesse. E sobraram os de sempre: os colecionadores, os nerds raiz, os sabichões que vivem numa bolha, girando em torno das mesmas obras e das mesmas discussões há anos. A ironia é que muita gente de dentro trata o quadrinho como coisa de criança, um passatempo menor, e isso só reforça a visão de quem está de fora.


O resultado disso tudo é um mercado cansado, saturado, repetitivo. Um cenário que parece à beira do colapso, respirando por aparelhos e sustentado apenas por um público que, aos poucos, vai perdendo o brilho no olhar. E, sinceramente, não dá mais para fingir que está tudo bem. Falar de quadrinhos virou um esforço — e, pior, um esforço que cada vez menos vale a pena.


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