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As redes sociais estão perdendo o sentido de ser?

  • Foto do escritor: Carlos Pedroso
    Carlos Pedroso
  • 27 de mai.
  • 3 min de leitura

Volta e meia essa pergunta me atravessa feito um eco persistente. Penso, repenso, e não chego a conclusão alguma. Mas, desde o início de maio, tenho reduzido minha presença nas redes sociais voltadas ao universo dos quadrinhos. Parte disso se deve à rotina sufocante, que me afoga em tarefas. Mas há algo mais profundo, mais incômodo: a sensação de inutilidade que plataformas como o Instagram têm despertado.

O que antes era um caldeirão efervescente de ideias, debates e trocas genuínas, hoje se transformou num repositório de conteúdo automatizado, fabricado em série como se saísse de uma linha de montagem. As resenhas – ou reviews, como preferem chamar – não passam de sinopses estendidas, repetitivas, sem alma. A todo instante alguém aparece ditando o que você tem que ler, o que precisa comprar, qual é o lançamento “imperdível” que, em menos de duas semanas, já caiu no esquecimento coletivo.


Falta originalidade. Falta risco. Falta paixão. Mas talvez o que mais falte seja disposição para sair do piloto automático. A fadiga criativa parece ter contaminado até mesmo os mais entusiastas, que se resignaram em produzir mais do mesmo e, pior, o público parece aceitar isso com um desinteresse que beira a indiferença. Hoje, tudo é pensado para “engajar”. Não há mais espaço para a dúvida, para o processo, para a construção lenta do pensamento. O algoritmo exige respostas rápidas, conteúdo digerido, fórmulas que funcionem em 30 segundos. O que escapa dessa lógica é descartado, ignorado ou rotulado como “difícil demais”. Nesse ambiente, o que se produz não precisa ser bom – só precisa performar bem.


E no meio disso tudo, a chamada scroll infinita talvez seja um dos maiores vilões silenciosos. O feed nunca termina. Você desliza o dedo, e outro post aparece. E mais um. E mais outro. É tanta informação jogada, tão rapidamente, que nada realmente fixa. As resenhas passam batido, os textos são ignorados, as ideias se diluem. O conteúdo virou ruído. O que foi postado hoje, amanhã já está enterrado sob uma avalanche de novidades vazias.


A crítica virou produto. A opinião virou publicidade disfarçada. E quem tenta nadar contra a corrente acaba sendo engolido pelo marasmo generalizado. Perde-se a coragem de dizer que algo não funcionou, que um autor consagrado derrapou, que um hype não se sustenta. Afinal, desagradar é arriscado. Pode custar seguidores, parcerias, likes. E talvez o mais perverso seja a ilusão de importância. As redes sociais deram a muita gente uma falsa sensação de relevância. As pessoas realmente acreditam que são indispensáveis, que suas opiniões são aguardadas com ansiedade, que seu conteúdo impacta o mundo. Mas, no fundo, ninguém está prestando tanta atenção assim. Você pode desaparecer por dias, semanas, meses, e quase ninguém vai notar. A roda gira, o feed corre, e a sensação de ser visto se dissolve no vazio. Likes não são afeto. Compartilhamentos não são reconhecimentos. Comentários não são escuta.


Sinto falta da espontaneidade, da imperfeição, da conversa entre iguais. De quando uma postagem não era pensada como estratégia de crescimento, mas como parte de um diálogo. Quando os quadrinhos eram compartilhados por paixão, e não como moeda social.


Talvez eu mesmo tenha me cansado. Cansado de um espaço que já brilhou, já inspirou, mas que hoje se esvazia a cada scroll. Talvez o que antes era uma rede de conexões e descobertas tenha se tornado apenas mais uma vitrine, mais um ruído entre tantos outros. Talvez a pergunta certa não seja se as redes perderam o sentido, mas se ainda fazem sentido para quem busca algo além da superfície.


A resposta, por ora, continua em aberto. Mas o silêncio, às vezes, é mais honesto que qualquer story.


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1 Comment


Angela Ikeda
Angela Ikeda
May 27

As redes nos dão essa sensação de movimento... mas é só uma rodinha de hamster, e a gente presa na gaiola enchendo as bochechas de reels, como se não houvesse amanhã. Triste. 🐹

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