Fala meus amigos e amigas, Carlos aqui na área! Hoje venho falar sobre o nosso quadrinho do mês, Primordial de Jeff Lemire. Ele será nosso destaque e faremos diversos conteúdos sobre ele. E para começar deixo a vocês uma review, feito por mim sobre essa fantástica obra.
O conceito de lar muitas vezes se entrelaça com o de casa, criando uma confusão que obscurece as nuances e riquezas de cada termo. Esta confusão, por sua vez, pode gerar um desconforto ao definir a casa como algo trivial e o lar como algo a ser alcançado com esforço e significado intrínseco.
Em "Primordial", Jeff Lemire desvia de seu tema favorito, a família, e se aventura em um território inexplorado por ele até então: a viagem espacial, animais falantes e espionagem, tudo isso com o pano de fundo da Guerra Fria. Nesta obra, Lemire desafia a si mesmo ao explorar um novo conceito em suas histórias, introduzindo um suspense que se revela muito mais profundo do que à primeira vista. Os elementos da trama são habilmente entrelaçados, com "Primordial" abordando de forma contundente os abusos infligidos aos animais, frequentemente utilizados como cobaias em experimentos científicos. Laika, a cadela, e Able, o primata, são representações vívidas de duas realidades distintas: enquanto a primeira é tratada com cuidado e amor, o segundo é sujeitado a abusos e desumanização, sendo tratado como mero objeto.
Esta dicotomia é ainda mais evidente quando ambos os personagens se encontram em uma dimensão desconhecida, onde iniciam uma jornada de comunicação e busca por um retorno ao seu lugar de origem, seja ele chamado de "Casa" ou "Lar". Laika anseia por retornar à Terra, onde sempre encontrou afeto e proteção, enquanto Able, marcado pela falta de amor e compaixão, hesita em voltar, consciente de que jamais encontrará felicidade em um ambiente onde é tratado com crueldade. Tudo isso se desenrola em meio a uma intrincada trama que se desenvolve em paralelo aos acontecimentos da Guerra Fria, adicionando uma camada adicional de complexidade à narrativa.
É notável como Lemire, um dos mais celebrados autores contemporâneos, demonstra sua maestria ao sair de sua zona de conforto, arriscando-se em terrenos desconhecidos e presenteando os leitores com uma trama que, embora possa parecer simples à primeira vista, revela-se repleta de camadas densas e significados sutis, exigindo uma análise cuidadosa para ser plenamente apreciada.
Mas a obra não seria completa sem os magníficos desenhos de Andrea Sorrentino, cujas páginas saltam aos olhos com sua expressividade e detalhamento impressionantes, criando um espetáculo visual que complementa e enriquece a narrativa. A paleta de cores magistralmente elaborada por Dave Stewart adiciona uma dimensão adicional à experiência de leitura, criando uma atmosfera envolvente e imersiva que transporta o leitor para os cenários mais remotos e fantásticos da história.
Destaca-se também o trabalho de edição realizado pela Editora Trem Fantasma, que eleva ainda mais a qualidade da obra, tornando-a uma verdadeira obra de arte para os aficionados por quadrinhos.
Para os que ainda não tiveram a oportunidade de se aventurar nas páginas de "Primordial", recomenda-se fortemente que o façam. Esta é uma obra que transcende os limites do gênero, oferecendo uma experiência única e memorável que certamente deixará sua marca na mente e no coração de quem se aventurar por suas páginas. E você, já se permitiu embarcar nesta fascinante jornada? Compartilhe suas impressões conosco nos comentários abaixo.
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