
A cultura popular brasileira carrega nas costas o peso de tantas histórias não contadas, guardadas nos becos das cidades ou nas beiras dos rios. E é justamente desse Brasil esquecido que A Odisseia de Gonçalo Bombom emerge, trazendo à luz a vida simples e o caos cotidiano de um pescador que, entre goles de cachaça e ondas de azar, embarca em uma aventura peculiar. Esse novo projeto da parceria entre as editoras Ultimato do Bacon e Trem Fantasma já está no ar pelo Catarse (clique aqui para apoiar), oferecendo um novo capítulo dessa parceria de sucesso que já nos trouxe obras marcantes como Crônicas da Província e Clube dos 27.

A trama segue Gonçalo Bombom, um personagem que parece ser moldado pela própria imprevisibilidade do destino – um anti-herói que, sem lembrar de suas ações por conta de sua constante embriaguez, descobre que roubou, matou e comeu um galo de briga valioso. É um ponto de partida que, além de inusitado, coloca Gonçalo em uma jornada tragicômica, onde sua ligação com o mar, a dança e os prazeres carnais criam um contraste entre o cômico e o amargo da vida.
Há algo de profundamente humano em Gonçalo Bombom, um eco distante de outros personagens da literatura brasileira que lutam, à sua maneira, contra as marés de suas realidades. Ele lembra Macunaíma, de Mário de Andrade, com sua indolência e resistência às mudanças, ou até mesmo Fabiano, de Vidas Secas, que, em meio à seca do sertão, encontra na rudeza da vida sua própria forma de poesia. Gonçalo, assim como esses personagens, é um retrato da alma brasileira: lutador, porém derrotado por suas próprias escolhas e vícios, mas que ainda dança ao som da vida, sem pedir desculpas.

O quadrinho também nos leva a refletir sobre os períodos históricos do Brasil, especialmente os tempos da escravidão e a cultura das rinhas de galo, que foram símbolos de uma sociedade que, embora tenha mudado em muitos aspectos, ainda guarda as marcas de um passado de violência, exploração e resistências cotidianas. A Odisseia de Gonçalo Bombom se passa em um cenário que conversa com essa realidade, mesmo que por meio de uma narrativa moderna e cheia de ironia.
A parceria entre as editoras Ultimato do Bacon e Trem Fantasma tem se mostrado não apenas frutífera, mas fundamental para a revitalização de vozes e estilos que ajudam a contar a história do Brasil através dos quadrinhos. Com Wander Antunes à frente de mais esse projeto, que já nos entregou sucessos como Contos de Honra e Sangue e Crônicas da Província, temos mais uma obra que dialoga com o cotidiano brasileiro, mas sempre com um olhar cômico e reflexivo sobre as contradições da vida.

Seja pelo texto afiado ou pela arte vibrante, o leitor encontrará em A Odisseia de Gonçalo Bombom uma narrativa que não teme o realismo mágico do nosso país. Gonçalo não é herói de epopeia, mas sua busca – mesmo que fracassada – por algo maior acaba ressoando em cada um de nós. É uma história sobre erros, arrependimentos e, ao mesmo tempo, sobre continuar dançando mesmo quando o chão parece ter sumido.
Essa odisseia já está à sua espera no Catarse, onde você pode apoiar e fazer parte dessa nova aventura da parceria entre as duas editoras. Com 64 páginas coloridas e o formato 20x28 cm, A HQ promete não apenas uma experiência visual impactante, mas uma leitura que mergulha nas águas profundas da cultura e da alma brasileira. Wander Antunes
Wander Antunes, nascido em Jataí (GO) e adotado por Cuiabá (MT), é um roteirista consagrado na cena dos quadrinhos brasileiros. Criador de obras como Contos de Honra e Sangue e Crônicas da Província, Antunes também foi premiado com o Troféu HQMIX pelo detetive Zózimo Barbosa, desenhado por Mozart Couto e Gustavo Machado. Além disso, adaptou clássicos da literatura, como Clara dos Anjos de Lima Barreto e O Homem que Corrompeu Hadleyburg de Mark Twain, com reconhecimento internacional. Em 2023, lançou o romance Vestida de Puta, parte da série Histórias do Cu do Mundo.
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