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Foto do escritorOitavo Lucas

Jon Kent: O herói que lemos - e o que podemos ser



"Superman: Son Of Kal-El # 1" saiu na gringa em 27 de julho de 2021. Na época eu estava em um hiato de quadrinhos físicos não programado. Não tinha grana nem emprego. E era um hiato um tanto maior que isso. Numa série de problemas pessoais que não convém descrever aqui, fui me livrando de uma longa coleção de quadrinhos e da minha vida. Mas este texto não é sobre isso.


Um leitor de quadrinhos de super-heróis depois do mergulho mais profundo dificilmente sai da água por completo. Sempre ficamos sabendo de alguma novidade absurda que vai durar pouco mas promete muito, ou nos comovemos com um filme a ponto de procurar algo na banca logo em seguida... Multiversos em constante expansão tem esse efeito de sempre ter algo novo e conhecido ao mesmo tempo pra nos fazer pensar: Será?


A grana entrou, eu queria voltar a colecionar, e comecei a ler online. Só iria comprar algo novo quando me interessasse muito. E conheci Jon Kent, o Superman filho de Kal-El. Não foi de primeira, segunda ou terceira edição. Eu li quinze edições americanas de uma vez porque eu não conseguia parar. Eu entrava no site da Panini e procurava tudo que já tinha saído, em "Superman 5" de junho de 2022 começou a sair por aqui oficialmente a mensal americana do Jonzinho. Mas só tinham quatro edições antes e tinha uma mini com o Authority do Grant Morrison, então fui voraz em tudo. Gastei uma boa grana com os primeiros gibis da minha atual coleção.


Porque o Jonzinho e porque logo nessa fase? Eu ainda não era um fã de Tom Taylor. Minha lembrança dele era Injustiça e herói perdendo a cabeça e virando vilão não faz muito meu tipo. Já curtia muito a energia do Jon criancinha, e demorei a entender como ele ficou adulto tão rápido. Mas sob a arte divertida e dinâmica de John Timms, Clayton Henry e outros nomes que passaram pela revista, além de coloristas incríveis também, foi justamente o adulto que Jon se tornou que me inspirou a querer - e poder - ser um herói também.


Porrada! Violência! Sangue! Quem é o mais forte? Não é sobre isso esse gibi. Jon está lidando com um fardo pesado: Assumir o lugar de seu pai que precisa ir pro espaço resolver tretas de outros planetas. E é assim que vamos conhecendo o bebê de ouro. Ele tem superpoderes, mas o maior deles é a empatia. Ele entende e ouve as pessoas - e até os monstros do mar. Busca o porque por trás dos problemas que enfrenta e as soluções menos violentas possíveis. Sim, ele tem poderes.


O elenco de apoio é incrível. Lois é um exemplo de ideais e segurança pro Jon, e Jay é uma luz de coragem e cuidado na vida do Jonzinho. Então vamos falar de Jay Nakamura, o namorado do Superman. Sim, o universo DC esteve por um ano e meio sendo representado por um Superman que beija rapazes. Óbvio que isto me prendeu ainda mais neste gibi. Atenção na sequência de imagens a seguir!



Este foi o primeiro beijo de Jon e Jay. Jay é intangível, ganhou estes poderes de uma forma muito interessante para a trama. Desde o começo, estas pessoas com poderes vem surgindo. Não são mutantes. E ganharam os poderes de forma involuntária. Seguindo o rastro desses mistérios, a história perpassa por alto temas como crise de refugiados, crises ambientais, mercado de armas, tráfico de pessoas, governos despóticos, corporações multimilionárias, golpes de estado, juventude sem perspectivas, jornalismo independente e mídia alternativa. Tudo num gibi super leve do Superman com uma energia suave, personagens maneiros e interações divertidas. O Damian Wayne tem cada cena irada!


No final da fase, o papai volta e Jon passa um tempo evitando conversa. Sim, o filho perfeito tem medo de se assumir pro pai perfeito. Porque a gente passa a vida ouvindo tanta coisa terrível, sabendo de coisas sinistras que fazem por aí e sentindo essas pequenas tensões em falas na TV, na rua, em casa. Fica complicado, né? Você sabe que está certo, mas se todo mundo diz que está errado... Qual será a opinião de quem ainda não falou nada? Será que devo falar?



Um lampejo de esperança. Já me disseram muitas vezes que super-heróis são sobre isso. Acho que também são sobre identidades secretas, capacidades escondidas, ideais inalcançáveis e luta sem fim. Ser super-herói tem tudo a ver com ser LGBTQIAPN+. Percebam ou não os leitores ou até seus criadores. E se era uma chance de vestir uma roupa maneira e sair de casa sem ninguém saber quem eu sou pra lutar pelo que eu acredito com poderes que todo dia eu escondo, se era isso que o jovem Lucas procurava quando lia seus gibis... Hoje ele tem um lampejo de esperança. Se Jon Kent não se esconde, porque o Luquinhas aqui deve se esconder?


Eu não tenho uma família perfeita nem invulnerabilidade nem um namorado intangível. Mas eu tenho empatia e o exemplo de um herói maneiro da ficção... E de muitos outros da realidade. Meu namorado não é intangível mas a gente cuida um do outro muito bem. As lutas tem proporções cósmicas nos gibis. Mas elas existem pra nos ajudar com nossas lutas de proporções cotidianas. Tudo isso me fez voltar a colecionar por causa de Jon Kent. E mesmo que super-heróis assumidos sejam algo legal que só aconteça com personagens menos conhecidos ou que aparecem por pouco tempo, eu achei o meu e me apeguei a ele. Seja você quem for, deve ter um pra você. (E os heróis hetero estão sempre dando pinta!)


Eu sou Oitavo Lucas e este é meu primeiro texto aqui. Muito obrigado ao pessoal do site por me chamar! Abraço!


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