Se há uma HQ concebida e lançada no Brasil em 2023 capaz de sacudir os entusiastas da nona arte, sem dúvida, essa obra é "Damasco". Nessa narrativa niilista da editora BRASA, o leitor é levado por camadas profundas de subtextos, análogos ao dia a dia do homem contemporâneo, e pelo anti-carisma magnético de Saulo, seu protagonista.
Com uma arte com por vezes hipnótica de Alexandre Lourenço e um roteiro propositalmente amargo de Lielson Zeni, este quadrinho tem o poder não apenas de emudecer e fazer gritar, mas também de sufocar e remediar - uma experiência daquelas que transcendem as fronteiras da nona arte.
Já no primeiro ato de Damasco, Saulo enfrenta a difícil decisão de deixar tudo para trás, cortando laços com todos, incluindo a namorada Raquel - por quem claramente não nutre responsabilidade afetiva alguma. Ele liquida seus pertences, cria um plano meticuloso para desaparecer e, como observadores, acabamos por nos perguntar: será possível realmente abandonar tudo o que nos moldou?
Cada capítulo de "Damasco" traz consigo uma abordagem única de narrativa, dialogando com diferentes formatos e trazendo referências que abrangem a cultura pop como um todo: literatura, cinema, música e games - tudo isso levando em conta a evolução de Saulo e do próprio espaço-tempo que o acolhe (ou não).
A bem da verdade, "Damasco" não é apenas uma história em quadrinhos; é uma jornada que nos convida a confrontar nossos próprios fardos e aceitar as nuances de nossa própria existência, tornando-se uma obra capaz de emitir sua própria luz sobre a cena da nona arte nacional ainda tão carente de arautos de suas joias.
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