Aqui estamos nós, mais uma vez, prontos para criticar, reclamar ou censurar algo no vasto universo das histórias em quadrinhos. Entretanto, caro leitor e querida leitora, hoje não seguiremos esse caminho habitual. Em vez disso, compartilharei uma experiência de leitura que vivenciei ao longo do mês de agosto. De forma discreta, mergulhei em uma análise empírica de um dos meus hábitos de leitura: a busca incessante por histórias que nunca têm um fim definido.
Você pode se perguntar: "Mas não são todas as histórias destinadas a um fim?" Claro que sim, mas a questão reside na velocidade com que alcançamos esse desfecho. Tudo depende de como conduzimos nossas leituras. Sem mais delongas, compartilho o meu desafio pessoal: dedicar o mês de agosto a ler exclusivamente material relacionado a super-heróis, com apenas uma ou outra exceção. Foram mais de 40 títulos de heróis devorados, provenientes tanto da Marvel quanto da DC. Antes de entrar nas conclusões, permita-me apresentar alguns pontos essenciais: sou um leitor ávido de gibis da Marvel e DC, e não tenho a menor intenção de abandonar essa paixão. Por quê? Bem, porque alguns desses personagens moldaram a minha vida e contribuíram para a minha formação como indivíduo. Além disso, essa não é uma crítica direcionada aos leitores desse gênero, nem às editoras, muito menos à Panini. É, simplesmente, um relato de um leitor exausto que talvez tenha alcançado o seu limite.
Agora que todos os pontos estão devidamente expostos, sigamos adiante. Durante o mês de agosto, desafiei-me a ler a maior quantidade de quadrinhos de heróis que minha mente pudesse absorver. Não importava se fossem publicações novas ou antigas, clássicas ou não. Estabeleci como meta consumir tudo o que estivesse ao meu alcance, incluindo obras que há tempos desejava explorar. E posso afirmar, antecipadamente, que essa jornada foi uma experiência interessante, sobretudo do ponto de vista científico (gosto de usar essa palavra, afinal, sonho em me tornar um cientista um dia). O experimento foi conduzido com toda a seriedade e rigor que merecia. Não houve distinção de material; li o máximo que consegui. O resultado? Um artigo, o qual você está lendo agora. Ao propor esse desafio, meu objetivo era compreender como alguém pode ler continuamente o mesmo tipo de história sem se cansar ou saturar. E, acima de tudo, eu buscava entender qual era o verdadeiro encanto desse universo fantástico.
Assim que o mês de agosto começou, mergulhei de cabeça nas páginas dos quadrinhos, devorando quantidades surpreendentes. Em alguns dias, consegui ler até três quadrinhos. Foi nesse frenesi que consumi mais de 40 obras impressas e 12 digitais, embarcando de forma intensa no universo dos super-heróis. Embora eu tenha sido beneficiado pelo fato de agosto ter 31 dias e de ser um estudante com mais tempo livre do que a maioria, a quantidade não era o meu foco principal. O aspecto crucial estava na natureza repetitiva das histórias de heróis. À medida que o mês avançava, percebi que podia contar nos dedos as leituras que verdadeiramente se destacaram, aquelas que valiam a pena, que estimularam minha mente e aqueceram meu coração. No entanto, ao analisar uma estatística simples, levantei uma questão desconcertante: de 52 obras lidas, apenas 10% mereciam ser chamadas de boas (pelo menos, na minha avaliação)?
Essa questão provocou uma série de reflexões sobre leitura em geral. Será que meu hábito de leitura indiscriminada prejudicou minha experiência? Estamos presos em um ciclo vicioso? O gênero dos super-heróis, mesmo nos quadrinhos, está desgastado? Escolhi sabiamente o que ler? Com essas perguntas ecoando em minha mente, respostas e ideias se entrelaçaram, incluindo o título deste texto: "Menos é Mais." Cheguei à conclusão de que, de fato, menos é mais quando se trata de leitura. Ao me pegar devorando histórias como se não houvesse amanhã, percebi que estava tentando preencher um vazio, desejava fazer parte de algo maior. No entanto, essa busca incessante nem sempre é benéfica. Com que frequência nos encontramos nas redes sociais, comparando nossa leitura com a de outros, seja a de quem lê mais ou de quem lê com mais profundidade? Não estou dizendo que todas as leituras precisam ser excepcionais, mas quero enfatizar que a leitura deve ser um prazer, não uma obrigação. Quando a meta de leitura se torna mais importante que o próprio prazer de ler, a mágica da experiência se perde, e nada parece nos satisfazer.
Ao final desse experimento, uma lição valiosa foi aprendida: "menos é mais." As leituras devem ser momentos de prazer, nos quais nos conectamos verdadeiramente com o que as obras têm a nos oferecer, mesmo que seja apenas uma mensagem simples. Quando sobrecarregamos nossas mentes com uma avalanche de histórias, até as mensagens mais simples passam despercebidas. Portanto, caro leitor e querida leitora, aproveitem seus momentos de leitura. Escolham sabiamente o que dedicar seu tempo, e não tenham medo de se aventurar nas páginas e se emocionar, mesmo que o desfecho demore a chegar.
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