
Todos nós, em algum momento, abrigamos monstros em nosso íntimo, concorda? É essa profunda questão que Barry Windsor-Smith explora com maestria em sua obra magnífica e apaixonante, "Monstros". Muito se diz sobre como o mal pode gerar mais maldade, e como todas as coisas se entrelaçam em ciclos intermináveis. Eu acredito nisso, pois diariamente testemunhamos os horrores que as pessoas podem cometer. No entanto, "Monstros" não foge dessa verdade universal, mas a aborda de maneira tão sensível e penetrante que nos leva a refletir sobre o impacto devastador de nossas ações sobre o coração alheio, transformando-nos em verdadeiras criaturas das trevas.

"Monstros" não é meramente a história de um jovem que se alista no exército e se torna objeto de experimentos de um cientista nazista. Essa obra-prima em quadrinhos revela como as vidas das pessoas estão inextricavelmente entrelaçadas, e como essa conexão pode nos afetar, seja para o bem ou para o mal. O mais fascinante é que ao longo de toda a trama, eventos ocorrem e questionam constantemente a natureza da realidade, envolvendo-nos em um emaranhado de dúvidas. Isso pode parecer confuso, pois Barry Windsor-Smith opta por uma narrativa não linear, entrelaçada por espaço e tempo. Essa escolha narrativa é brilhante, dando uma profundidade única à história.

"Monstros", que poderia facilmente ser apenas mais uma história sobre experimentos, transcende as expectativas, explorando dimensões místicas e espirituais. A obra desvenda toda a tensão gerada por relacionamentos abalados pelo horror da guerra. Ainda que, por vezes, possa parecer que a tensão se desvanece, ela permanece entrelaçada em cada aspecto da trama, como um fio invisível que nos mantém presos em sua teia.

Com elementos que a qualificam para se tornar um clássico, como um enredo visionário, arte imaculada e um tema atemporal, "Monstros" vai muito além de sua proposta inicial. Sem dúvida, essa é uma das leituras mais marcantes que já tive a honra de desfrutar.
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Vi uma palestra da Bienal em Curitiba, da Má Matiazi sobre o “Monstro” como protagonista. O que seria um monstro, atualmente? O quanto não-monstros somos quando nossos horrores são expostos? Não sei nem se cabe aí, mas lembrei disso para comentar aqui.