Quando me vejo num momento de pausa, simplesmente relaxando, um pensamento incômodo se insinua: deveria estar sendo produtivo. Por um instante, hesito, mas decido continuar aproveitando meu tempo livre. No entanto, nem sempre foi assim. Durante muito tempo, me vi pressionado a produzir constantemente, especialmente ao observar colegas que pareciam gerar conteúdo sem fim enquanto ainda encontravam tempo para devorar pilhas de quadrinhos. Mas deixe-me chegar lá. Quando decidi retomar a criação de conteúdo sobre quadrinhos, durante o auge da pandemia, foi uma escolha motivada pelo desejo de expressar meu amor por esse universo e, ao mesmo tempo, distrair a mente. No entanto, à medida que mergulhava nesse empreendimento, percebi que estava cada vez mais consumindo um tempo que, inicialmente, parecia dispensável, mas que com o tempo se tornou escasso. Tempo que poderia ter sido gasto jogando, assistindo a um filme ou simplesmente não fazendo nada. Mas o que quero destacar aqui? Hoje em dia, vejo muitas pessoas se culpando por não manter uma frequência constante de postagens nas redes sociais, ou até mesmo priorizando exclusivamente essa atividade. Estão erradas? Acredito que cada um conhece seus próprios limites.
No mágico mundo das redes sociais (especialmente no universo dos quadrinhos), as pessoas parecem possuir uma quantidade infinita de tempo à disposição. A todo momento, somos bombardeados com postagens que transmitem a falsa ideia de que quem não está constantemente compartilhando está sendo improdutivo, alimentando um ciclo que oprime muitos indivíduos. Vamos ser francos, é inegável que não podemos comparar as circunstâncias de cada um, mas existe uma simetria fictícia entre aqueles que encaram a produção de quadrinhos como um hobby e aqueles que a encaram de forma profissional, dedicando-se integralmente e buscando sustento nessa atividade. Dito isso, é importante ressaltar que a maioria esmagadora das contas dedicadas aos quadrinhos não gera lucro significativo, limitando-se a meros agrados.
Essa competição desenfreada muitas vezes leva pessoas que iniciaram no mundo dos quadrinhos por puro prazer a encarar essa atividade com seriedade excessiva, cobrando-se incessantemente. Nos grupos de discussão, é comum encontrar indivíduos desanimados pela falta de engajamento, sem motivação para compartilhar conteúdo ou ansiosos por não fazerem parte de uma suposta elite. Esse comportamento, em minha opinião, é prejudicial, transformando algo que deveria ser prazeroso em algo estressante e desmotivador.
Grande parte desse problema decorre da competição entre pessoas que buscam sempre estar um passo à frente, seja divulgando notícias sem créditos ou apenas em busca de engajamento. Mas por que diabos o engajamento se tornou tão crucial? Por que essa métrica se tornou o valor supremo do Instagram, determinando quem é relevante e quem não é? É por ela que você acorda cedo para gravar vídeos, que deixa de lado atividades importantes, que posta diariamente conteúdo que ninguém lê. O engajamento se tornou a bússola que guia a maioria das pessoas nas redes sociais, mas também é o fator que leva muitos à desistência, à desmotivação e à dúvida sobre a qualidade de seu próprio conteúdo. O algoritmo se tornou um tirano, forçando muitos a se renderem a esse modelo opressor e abandonarem a verdadeira essência da diversão.
Outro aspecto fundamental desse modelo é a figura do recebidinho. É claro que todos adoram receber quadrinhos gratuitos, mas até que ponto vale a pena manter esse ciclo vicioso? Afinal, você só ganha quadrinho porque lá no início, você falou com amor, dedicação sobre quadrinhos. No final das contas, você se torna apenas mais um recebedor de brindes, um mero resenhista de sinopses, esquecendo-se do amor e da dedicação que um dia foram os pilares de sua paixão pelos quadrinhos.
No fundo, a pergunta que devemos nos fazer é: vale a pena competir com os outros? Mudar aquilo que amamos fazer apenas para agradar um algoritmo ou uma editora? A resposta está no objetivo da nossa página. A busca pelo equilíbrio na vida passa pelo autoconhecimento e pela compreensão do que é realmente importante para nós. Quando começamos a nos cobrar por algo que não faz sentido, é hora de repensar nossas prioridades e reconectar com o verdadeiro propósito por trás de nossa paixão pelos quadrinhos.
No final das contas, você se torna prisioneiro do mundo que ajudou a criar. Quanto mais você entrega, mais é exigido de você. Vale mesmo a pena dedicar tanta energia a um hobby? Vale a pena sacrificar outras atividades para produzir conteúdo que, no fundo, é apenas seu desejo de compartilhar com os outros?
Quando finalmente entendi que eu sou quem controla meus hobbies e que não preciso seguir o mesmo caminho que os outros para me sentir completo, redescobri o prazer de ler sem a necessidade de compartilhar com o mundo.
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