Para compreendermos o fenômeno do fanatismo, é preciso, em primeiro lugar, mergulhar na definição desse estado psicológico. Fanatismo é a manifestação de fervor excessivo, irracional e persistente, frequentemente associado a motivações religiosas ou políticas ao longo da história. Essa paixão exacerbada por uma causa muitas vezes se aproxima do delírio, encontrando seu solo fértil em mentes paranóicas. Mas por que estou começando com essa explicação, você deve estar se perguntando. Bem, caro leitor, porque o fanatismo não é um terreno exclusivo de crenças religiosas ou políticas; ele também encontra abrigo nas páginas coloridas de suas revistas em quadrinhos favoritas.
Nos recantos escuros da cultura dos quadrinhos, temos assistido a um fanatismo alarmante, que beira a idolatria, por parte de muitos fãs que abraçam de corpo e alma suas editoras prediletas. Qualquer tentativa de crítica ou questionamento é recebida como um ataque frontal, deflagrando um embate que se assemelha a uma cruzada medieval. Aqui, não há diferença entre as expedições militares religiosas dos séculos XI e XII, que buscavam impor o cristianismo sobre outras religiões, e o fervor com que alguns defendem editoras como se fossem um credo a ser seguido e defendido.
Basta dar uma rápida olhada nos canais de YouTube, no Instagram ou nos grupos de WhatsApp para ver a devoção extrema a essas editoras, como se tudo o que produzem fosse divino. O marketing dessas empresas, muitas vezes, parece uma lavagem cerebral, em que os editores, mais parecendo marqueteiros dos anos 90, roubam a cena, ofuscando os próprios autores. Não é difícil enxergar a semelhança com as estratégias da igreja, que, de forma análoga, prega que você deve amar a Deus acima de tudo, ou enfrentará a condenação eterna. No mundo dos quadrinhos, é como se dissessem: "Se você não comprar na pré-venda, você está excluído do clube".
Essa dinâmica é alimentada por uma elite de fanáticos que, sem perceber, influenciam o mercado de quadrinhos de forma decisiva. E, enquanto essa bolha de idolatria cresce, o mercado de quadrinhos se torna cada vez mais nichado, encolhendo perigosamente. No entanto, para os que vendem quadrinhos a preços exorbitantes para seus seguidores fiéis, o negócio está bombando.
A pergunta que fica é se esse fanatismo não está inflando uma bolha que está prestes a explodir, causando danos colaterais em seu caminho. Como bem sabemos, nada é eterno, e a maré pode mudar a qualquer momento. Aqueles que hoje parecem normais em sua devoção podem estar prestes a sair de moda, e talvez descubram que têm um deus que só cobra, sem oferecer nada em troca. Ou talvez, finalmente, percebam que o rebanho merece mais do que uma mera promessa vazia."
Gostou do nosso conteúdo? Que tal apoiar o Yellow Talk? O Yellow também é podcast, e seu apoio pode ajudar o nosso trabalho a crescer cada vez mais. A partir de R$2,00 você já vai estar contribuindo para manutenção do nosso programa. Para dar o seu apoio, basta clicar AQUI.
Gostei bastante das provocações do texto. Muito necessárias. Fico chocado com o rumo das editoras que fazem o nicho ficar mais nicho, e pouco se esforçam para popularizar os quadrinhos no Brasil. Saúdo as editoras que tem selos e coleções mais baratas, que se preocupavam com o preço final de capa e que valorizam autorus. Algo muito difícil de alcançar numa balança tão difícil. Também queria reiterar um detalhe que o poder de compra do brasileiro tem caído sucessivamente, ano após ano. A consequência é que a cultura e o lazer ficam em segundo plano quando se precisa garantir a alimentação diária, o aluguel, as contas de casa. E eu tenho refletido que a consequência do aumento do preço dos…
Me preocupa muito essa urgência pela leitura do que acabou de sair pra que os "hqólatras" se sintam parte da gibisfera... como criadores de conteúdo, cabe a nós mudar um pouco isso, dentro do possível... tudo em termos de cultura pop ganhou um ar de urgência que não víamos tempos atrás... e tem tanta coisa boa que já saiu que a galera não faz ideia que exista... Parabéns pelo texto, nobre amigo!