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Bloodrik: Sangue, instinto e sobrevivência

  • Foto do escritor: Carlos Pedroso
    Carlos Pedroso
  • 21 de out.
  • 3 min de leitura

Bloodrik, de Andrew Krahnke, é o tipo de quadrinho que não tenta ser mais do que é e justamente por isso funciona tão bem. É puro entretenimento bruto, uma mistura intensa de Conan com O Sobrevivente, onde o delírio e a confusão se fundem de tal forma que o leitor nunca sabe ao certo o que é real ou se existe, de fato, uma realidade a se agarrar. Essa desorientação é parte essencial da proposta do autor: mais do que contar uma história linear, ele quer nos colocar dentro da mente turva de Bloodrik.


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O quadrinho reúne três histórias principais e outras três extras, todas ambientadas em um mundo selvagem, brutal e indiferente. À medida que acompanhamos o protagonista ferido e dominado por uma fúria primitiva, somos arrastados junto em sua busca não apenas por sobrevivência, mas talvez por sentido. Há momentos em que a narrativa parece se perder em si, e confesso que algumas passagens também me soaram estranhas. Ainda assim, essa sensação de estranhamento faz parte do jogo que Krahnke propõe.


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Como obra de estreia, Bloodrik deixa claras tanto as virtudes quanto as limitações do autor. Krahnke escolhe recortar um fragmento da vida de seu personagem, sem explicar sua origem, seu passado ou o que o levou até ali. Essa decisão pode frustrar quem busca um arco mais completo, já que várias lacunas ficam em aberto, mas, ao mesmo tempo, reforça a ideia de que o importante aqui é o instante, o impulso de continuar respirando quando tudo parece ruir.


O ponto alto da HQ está, sem dúvida, na arte. Andrew Krahnke demonstra uma impressionante segurança visual para um trabalho de estreia. Seus traços são crus, irregulares e intensamente expressivos, parecem esculpidos à faca, refletindo o estado emocional do protagonista. Há uma fisicalidade no desenho que comunica mais do que qualquer diálogo: o peso do corpo cansado, a aspereza do vento, o impacto da dor. Essa materialidade gráfica torna cada página uma extensão do sofrimento e da raiva de Bloodrik.


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A colorização, por sua vez, segue o mesmo espírito. Krahnke opta por uma paleta contida, de tons terrosos, frios e desbotados, que reforçam o sentimento de isolamento e decadência. Não há brilho nem glamour, apenas a sujeira, o sangue e a névoa que envolvem o personagem. A atmosfera que surge dessas escolhas é quase tátil, um universo que sufoca e consome, como se o próprio cenário fosse um inimigo a ser enfrentado.


Os cenários, amplos e desolados, funcionam como o reflexo da mente fragmentada do protagonista: vastos, mas vazios; belos, mas hostis. Em muitos momentos, o enquadramento e o ritmo das páginas lembram uma câmera instável, oscilando entre a contemplação e o caos. Essa cadência visual cria um impacto imersivo raro; o leitor sente o frio, o medo e a solidão de Bloodrik a cada passo.


Em última instância, Bloodrik é mais do que uma narrativa sobre brutalidade ou ação. É uma reflexão crua sobre o instinto de sobrevivência, sobre o que resta do ser humano quando tudo o que o cerca e tudo o que o habita é hostilidade. Não há propósito claro, nem promessa de redenção: apenas o impulso primitivo de continuar em movimento, mesmo quando o mundo inteiro parece querer detê-lo. E, nesse percurso, cada decisão, cada golpe e cada respiração têm um preço, um preço pago, inevitavelmente, em sangue.


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